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CEFET-MG

03/10/2022 | Pós-Graduação do CEFET-MG adota política de reparação social

Segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Cursos de mestrado e doutorado vão ofertar, no mínimo, 30% de vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência

A conta não fecha: embora a população negra no Brasil seja maior que a branca, as vagas nos programas de pós-graduação são ocupadas por um negro a cada quatro brancos. Em áreas como medicina, a proporção cai para um a cada 10, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2020, publicados pela Folha de S.Paulo. Para reduzir essa disparidade, o CEFET-MG passa a adotar o Programa de Ações Afirmativas para a Pós-Graduação stricto sensu em 2023, que busca a inclusão de negros (pretos e pardos), indígenas e de pessoas com deficiência nos cursos de mestrado e doutorado.

O regulamento do programa, já aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), visa promover a equidade no acesso e na permanência reservando, no mínimo, 30% das vagas para esses candidatos. A mestra em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG e engenheira civil Regiane Cristina da Silva conheceu bem essa realidade. Sua pesquisa de mestrado, cujo tema foi o percurso educacional de engenheiros negros formados em 2017, foi inspirada na experiência da própria pesquisadora, que é negra, nos ambientes acadêmicos em que frequentava. “Eu achava curioso: por onde passava o público das engenharias, seja ele das universidades públicas ou privadas, não tinha pessoas no meu tom de pele. Não via muitos ‘marrons’, como minha sobrinha fala. De fato, a grande maioria das pessoas era racialmente brancas”.

O “embranquecimento” na pós-graduação é mais uma realidade herdada da história do Brasil, em que a escravização de pessoas negras do continente africano gerou preconceito e discriminação em todas as áreas. É o que aponta a coordenadora da Coordenadoria de Gênero, Relações Étnico-Raciais, Inclusão e Diversidades (Cgrai) professora Silvani Valentim. “As desigualdades sociais e as inequidades educacionais começam na educação básica e refletem na ausência de políticas educacionais e na continuidade dos estudos por parte dos estudantes da pós-graduação”.

Oportunidades

A resolução prevê que deve ser instituída a Câmara Permanente de Assessoramento para Implementação de Políticas Afirmativas para a Pós-Graduação que, entre outras atribuições, deverá propor a inclusão de outros grupos discriminados como quilombolas, LGBTQIA+ e mulheres, além de um acompanhamento de egressos usuários desse sistema. “Este item entrou na política por entendermos que as ações afirmativas vão além da questão das cotas e que existem grupos que podem ter sua inclusão impulsionada a partir da pós-graduação”, conta o diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do CEFET-MG, professor Conrado Rodrigues.

Para a professora Silvani, a política de cotas parte do princípio de que é urgente criar as condições para que a justiça curricular, a permanência, o sucesso acadêmico e a realização educacional do público-alvo se façam valer. “Acrescenta-se, ainda, o incentivo à vocação científica com formação para a cidadania e protagonismo político e social com pesquisadoras(es) negras(os)”, afirma.

Atravessamentos

O mestre em Estudos de Linguagens do CEFET-MG, professor, estilista e cineasta Vitor Bedeti trouxe como tema da sua dissertação o encontro da poesia com a realidade. Porém, durante o percurso acadêmico, a leveza da arte não apareceu. “Meu mestrado foi muito atravessado por questões raciais, tanto do ponto de vista do corpo docente, porque eu não me sentia representado, como das turmas em que, muitas vezes, eu era o único negro. Essa configuração já está posta e, para mim, apresentou-se como mais uma violência. Vinha uma voz na minha cabeça que dizia: será que eu posso estar aqui? Foi um caminho bem desafiador”. Além da dedicação ao trabalho de pesquisa, Vitor relata que tinha que renovar as energias para lidar com essa imagem que o confrontava o tempo inteiro: de um ambiente em que não era possível ver, ouvir ou estudar sobre e com pessoas como ele.

O pesquisador, que é quilombola, pretende fazer o doutorado e acredita que, com a consolidação do programa, seria possível encontrar outros corpos negros desde a seleção na pós-graduação até a sala de aula. “Várias situações de violência racial que eu passei, eu fui entender depois que concluí o curso. A implantação do programa de ações afirmativas é para ontem, pois temos uma desigualdade enorme na pós-graduação e o programa vai proteger e fortalecer os corpos negros que estão ali”, vislumbra.

Acesse a íntegra do Jornal Diagrama no site da Secretaria de Comunicação Social (SECOM).

Coordenação de Jornalismo e Conteúdo – SECOM / CEFET-MG