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CEFET-MG

17/02/2022 | Com corte de quase 90%, Ciência brasileira se vê em apuros

Quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Sem perspectivas de investimento, agências têm que redirecionar ou escolher o que vão fomentar

O pesquisador Pedro Salles estuda, há seis anos, o reaproveitamento de resíduos de construção e demolição. A pesquisa, que ele começou a desenvolver no mestrado em Engenharia Civil no CEFET-MG, e continua agora no doutorado tem relevância nacional: o setor de construção civil é, por um lado, uma das áreas que mais gera riqueza e postos de trabalho e, por outro lado, a que mais produz resíduos para o meio ambiente.

Grande parte dos resíduos não recebe a destinação correta e fica exposta em terrenos baldios, áreas de preservação e vias públicas, o que agrava ainda mais a situação ambiental. Nesse sentido, o reaproveitamento de resíduos sólidos da construção civil traz benefícios econômicos, sociais e ambientais. “A indústria do cimento polui muito, então, quanto maior a quantidade de resíduos que você consegue incorporar nesses concretos, menos poluentes deixam de ser lançados. Você evita a extração de novos recursos não renováveis e dá destinação adequada para os resíduos”, explica o estudante.

Os estudos de Pedro e de muitos outros pesquisadores brasileiros estão sendo ameaçados em meio à crise da ciência brasileira, provocada pelos cortes orçamentários pelo Governo Federal e que vêm afetando o financiamento dos pesquisadores. Pedro, que é integrante da Associação de Pós-Graduandos (APG) do CEFET-MG, órgão máximo de representação estudantil da Pós-Graduação da Instituição, foi bolsista da Capes no mestrado e uma parte no doutorado. Ele acredita que o corte de verbas interfere em muitas questões, como o fato de não haver bolsas de pesquisa para todos os alunos que precisam, de as bolsas não sofrerem reajustes há anos e tem ainda os problemas com os equipamentos necessários para o desenvolvimento dos trabalhos. “Para a minha pesquisa, preciso de um maquinário que está quebrado e não tem verba para o conserto, assim o processo fica moroso. Se tivesse mais verbas, maior seria a manutenção e o reparo nos equipamentos. Além disso, o corte de verbas provoca impactos na participação de congressos, cursos, tradução de artigos e material básico para a pesquisa. Quanto mais se fala em cortes de verbas, pior fica a situação da pós-graduação”, destaca Pedro.

Formas de sobrevivência

Em outubro de 2020, o Governo Federal anunciou o corte de mais de 90% nos recursos a serem destinados para bolsas de apoio à pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e projetos já agendados pelo CNPq. Após o pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Congresso reduziu de R$ 690 milhões para R$ 55 milhões destinados para o apoio à pesquisa. A proposta aprovada remanejou os recursos do financiamento de pesquisas e destinou-os para aplicações em outros sete ministérios.

Para o diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do CEFET-MG, professor Conrado Rodrigues, a subtração dos recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa é um golpe duro na ciência e na inovação que prejudica o desenvolvimento nacional. “Para acontecer, a pesquisa científica precisa de financiamento e organização, que começa no contexto político e depois permeia os vários entes que compõem um sistema de muitos atores, desde o governo central, com a ideia inicial de qual a perspectiva, qual o papel da ciência no desenvolvimento do país, de uma sociedade. No meu ponto de vista, se não parte do governo central uma iniciativa de incentivo à pesquisa, essa cadeia de muitos agentes fica mal amarrada, com problema de coordenação e esforços, os entes ficam sem direção e sem saberem como interagir”, explica Conrado.

Do ponto de vista do financiamento, segundo o professor, há um problema grave, há menos dinheiro no sistema que é grande em termos de número de universidades, cursos de pós, alunos, projetos e demandas, e recursos é cada vez menor. Frente a essas dificuldades, o professor considera que as agências de fomento estão reavaliando a forma de conceder apoios. “Essa escassez está fazendo com que as agências redirecionem ou definam melhor o que vão fomentar. Outra tendência do financiamento é tentar reduzir a duplicação de esforços, você fomentar dois projetos parecidos em duas instituições próximas.

Como resolver isso? Fomentando projetos que envolvam redes de pesquisa, integração entre instituições, entre grupos de pesquisa. Com essa escassez, surge a maturidade de usar cada vez melhor os recursos; ela nos obriga, como gestores e pesquisadores, a sermos racionais ao propormos formas interessantes de recursos para apresentarmos as propostas”.

São cortes gravíssimos, mas que estão conseguindo ser revertidos com a liberação de editais. Segundo Conrado, os programas de fomento do CEFET-MG serão mantidos, bem como o apoio para a participação em eventos, taxas para publicação em periódicos e aos discentes. “Nós manteremos as bolsas e reajustaremos os valores com recursos próprios. É importante frisar que o apoio que o CEFET-MG dá para a pesquisa e pós-graduação é essencial para manter as nossas atividades, mas não prescinde do apoio das agências de fomentos. O que a Capes, Fapemig , CNPq oferecem em conjunto são muitos mais vultosos do que o CEFET-MG dispõe”.

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Coordenação de Jornalismo e Conteúdo – SECOM / CEFET-MG