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18/12/2017 | Ideas for Milk celebra a integração entre a pecuária leiteira, a inovação e a tecnologia

Segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Com um amplo potencial a ser explorado, o Ideas for Milk quer continuar estimulando jovens empreendedores, estudantes universitários e empresas a oferecerem respostas digitais inovadoras para os desafios enfrentados pelos diversos setores da cadeia produtiva do leite, a mais extensa do agronegócio.

Carmen Calheiros (Assessoria do Ideas for Milk)

 Depois de quatro meses de intensa atividade, o Ideas for Milk – Desafio de Startups e um inédito hackaton rural, o Vacathon – chega ao final contabilizando vitórias. “Todos os participantes saem vencedores, seja pelo resultado efetivamente conquistado, seja pela troca de experiências”, avalia o investidor Cezar Taurion, da Kick Ventures, correalizadora do evento. A iniciativa partiu da Embrapa Gado de Leite e contou com o apoio de gigantes da Tecnologia da Informação, como IBM, Microsoft, Cisco e Tim; da indústria de alimentos, como a Nestlé e a Porto Alegre; de insumos, como a TetraPak e a Tortuga/DSM; além de entidades como o Sebrae, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA, juntamente com Senar e Faeg), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e as associações ligadas às indústrias de lácteos Viva Lácteos, G100, ABIQ e ABLV.

Para Taurion, em sua segunda edição, o Ideas for Milk reforçou seu papel como agente de fomento à introdução da pecuária leiteira na indústria 4.0. Somada à presença de grandes corporações, a participação de 83 startups, das cinco regiões do país, das quais dez foram selecionadas para a final, sinalizou a abrangência e o alcance do Ideas for Milk como vetor de atratividade para diferentes atores do ecossistema do agro, com foco no leite. “O programa agrega à cadeia produtiva essa dinâmica de juntar pessoas com visão empreendedora, considerando a necessidade de evoluir. No Brasil, há um certo primitivismo e a produtividade é baixa se comparada aos Estados Unidos, por exemplo. É preciso usar a tecnologia para gerar mais informação e assim ampliar os benefícios para toda a cadeia produtiva”, defende Taurion.

O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, destacou a realização do Vacathon, a inédita maratona de programação rural que reuniu 16 equipes – 96 professores e alunos das áreas de agronomia, zootecnia, veterinária, ciências da computação, matemática e engenharia – representando 17 renomadas instituições federais e privadas de ensino superior, com o objetivo de buscar, em 48horas, soluções digitais para os problemas enfrentados pelo produtor de leite.

A programação do Vacathon incluiu ainda uma visita à principal escola do Brasil na formação de técnicos laticinistas, a Cândido Tostes/Epamig, em Juiz de Fora (MG), mentorias com pesquisadores da Embrapa, empresários e especialistas em inovação. “Pela primeira vez no mundo foi realizado um evento como esse. Na fazenda da Embrapa, os meninos puderam conhecer os diferentes problemas da atividade leiteira, em detalhes: ordenha, produção de capim, criação do animal em harmonia com o meio ambiente – integração lavoura, pecuária e floresta -, manejo de bezerras e tratamento de resíduos. Tiveram a visão de uma propriedade rural como nunca, uma vez que boa parte deles nunca tinha ido a uma fazenda”, explica Paulo Martins.

 

Systech Feeder vence o Desafio de Startups do Ideas for Milk

Depois do segundo lugar conquistado na primeira edição do Ideas for Milk – Desafio de Startups, no ano passado, a Systech Feeder, de Piracicaba (SP), foi a grande vencedora da edição deste ano, ao apresentar um sistema que integra hardware e software para monitorar, em tempo real, o consumo de concentrados – a base de milho, soja e sais minerais – e o ganho de peso de bezerras. “Não podíamos fugir ao desafio neste ano. Colocamos a nossa superação como ponto de honra e trabalhamos nas melhorias que foram essenciais para alcançarmos este resultado”, destaca o empreendedor Nilson Nunes Morais Júnior, cofundador da Systech Feeder.

Em fevereiro, a equipe faz as malas e embarca para a Europa. A convite da Neovia, multinacional de nutrição e saúde animal, a startup brasileira vai integrar o projeto de uma fazenda inteligente que a empresa está montando em Saint-Nolff, na França. “Eles nos descobriram por causa do Ideas for Milk. Somos muito gratos à Embrapa por ter sido essa nossa vitrine para o mundo”, acrescenta Nilson. Segundo ele, uma empresa canadense já mostrou interesse pela tecnologia da Systech Feeder. “Queremos agora encontrar um investidor nacional para o nosso produto”, destaca o empreendedor.

Segundo e terceiro lugares são do Sul

O segundo lugar da competição ficou com a SmartFarm. De Santa Maria (RS), a startup criou uma coleira digital para o rebanho que capta e monitora o tempo de ruminação, atividade e ócio de cada animal. Por meio de um aplicativo, o produtor recebe um alerta sempre que ocorre variação dos dados relacionados ao bem-estar, à saúde, ao cio e à nutrição.

Também do Rio Grande do Sul, a terceira classificada, a startup MobiMilk, é de Canoas (RS). Ela desenvolveu um conceito móvel de salas de leite e de ordenha, que funciona num container e chega pronto para uso na propriedade. Como recursos tecnológicos, a solução dispõe de sensores que monitoram a temperatura do animal, sendo possível identificar se o úbere está sadio, conferindo ao leite a qualidade e a segurança exigidas pela legislação.

O investidor Cezar Taurion destacou o alto nível de todas as finalistas. No entanto, acrescentou que o mercado, extremamente competitivo, exige que a equipe apresente uma boa ideia e também demonstre estar preparada para o desafio de empreender, com consistência, resiliência e estrutura adequada. “As três primeiras foram as que se mostraram mais viáveis, em termos de alavancar o negócio”, defende o investidor.

Para o correalizador Samir Iásbeck, do Qrânio, o dia mais importante para uma startup é o dia seguinte ao evento. “Ideias inovadoras e disruptivas exigem foco e persistência. A ideia tem valor, é claro, mas o que importa mesmo é a pessoa, o empreendedor, o quanto ele está disposto a trabalhar e batalhar pela sua ideia”, explica Samir ao afirmar que a história da vencedora da segunda edição do Ideas for Milk, a Systech Feeder, demonstrou esse amadurecimento e a constância necessária para o resultado alcançado, incluindo os convites do exterior.

Insper vence a maratona de programação

A equipe do Insper, da cidade de São Paulo, ficou em primeiro lugar no Vacathon ao apresentar uma solução de software e hardware baseada na Internet das Coisas (IoT), que permite ao pequeno produtor conviver de maneira bem amigável com o digital. O CowApp visa facilitar o gerenciamento financeiro e da produção do leite, consideradas as principais causas do abandono da atividade.

O diferencial do produto apresentado pelo Insper é a experiência do usuário, uma vez que o aplicativo responde por controle de voz. Ele analisa o que foi dito e registra as informações no balanço, fazendo um rápido controle do fluxo de caixa. Já um sensor instalado na ordenhadeira mecânica ou no balde, quando a ordenha é manual, se conecta a uma tag colocada em cada vaca e identifica o volume de leite ordenhado com uso de tecnologia de rádio frequência.

“Foi uma experiência extraordinária, sonífera, estressante. Foi maravilhoso sair da nossa zona de conforto. Deixar São Paulo e vir para o interior participar de algo assim tão incrível. Quando ficamos sabendo que íamos dormir em barracas, aí então foi demais! E também tinha o desafio de resolver problemas reais”.

Assim os alunos do Insper Raphael Costa e Guilherme Moraes resumiram o que foi a vivência do Vacathon para a equipe formada ainda por Frederico Curti, Lucas Fontenla, Elisa Mazoni e o professor Marcelo Hashimoto. “Escolhi esses alunos porque eles sabem trabalhar bem em grupo. O que a gente não quer é formar o engenheiro de solução pronta, mas o que vai a campo disposto a mudar de ideia. E foi isso que eles fizeram aqui”, observou Marcelo, satisfeito com o objetivo cumprido.

O segundo lugar na competição foi conquistado pelos alunos do Colégio Cotemig, de Belo Horizonte (MG). A equipe apresentou uma solução digital que apoia a implantação e a manutenção de um sistema silvipastoril. Inclui mapeamento da fazenda e projeção de custos e ganhos com a madeira. Muito elogiados pela banca examinadora por trazer uma solução simples, os alunos do Cotemig estavam radiantes. “Eles têm garra, determinação”, observou o coordenador técnico da faculdade, Leonardo Fonseca. “O Vacathon foi uma experiência sensacional, de Primeiro Mundo. Se outras empresas públicas fizessem o mesmo que a Embrapa Gado de Leite está fazendo teríamos a solução para o país”. acrescentou Leonardo.

A equipe da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) ficou em terceiro lugar ao propor um sistema de gerenciamento de pasto que inclui um sensor de quantificação de clorofila para medir o nível de nutrição da pastagem. A participação e o resultado vitorioso estimularam os professores da instituição a realizar hackathons acadêmicos. “Tivemos a oportunidade de demonstrar o potencial e a capacidade das universidades de gerar inovação”, explicou o professor Fabrício Campos que, ao lado de Edelberto Silva e Priscila Goliatt, esteve à frente do time de Juiz de Fora.

As equipes da Universidade Federal de Viçosa (UFV), com o projeto MastLess, e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), com a proposta Safe Milk, completaram a lista das cinco melhores classificadas entre as 16 participantes.

Ideas for Milk 2017 – em números

22 empresas e 16 entidades entre realização, patrocínio e apoio

20 instituições de ensino superior mobilizadas

5 dias de evento presencial

XX litros de leite, servido puro ou na forma de queijos e iogurtes

Desafio de Startups

83 projetos inscritos

10 finalistas

112 avaliadores na etapa classificatória

59 membros na banca avaliadora da Final

Vacathon

17 instituições de ensino superior

96 participantes

37 mentores

48 horas de maratona

49 membros na banca avaliadora

 

Resultados surpreendentes

Sobre o resultado, tanto do Desafio, quanto do Vacathon, Paulo Martins afirma que superou as expectativas. “Foi fantástico. Não tenho a menor dúvida de que grande parte dessas soluções pode estar disponível no mercado já em 2018, com ajuda de mentoria para transformar protótipos em negócios”, avalia. O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, acredita que o Ideas for Milk promove uma revolução no mundo da pesquisa e da inovação. “Quem imaginaria, cinco, dez anos atrás, nós, de uma instituição de pesquisa, com tantos jovens, numa discussão tão rica e excitante como vimos no Ideas for Milk. A velha caixa de ferramenta da pesquisa agropecuária, baseada só na genética, na química, na mecânica e na estatística, está se ampliando de maneira fabulosa. Nós temos hoje, vinda da transformação digital, uma diversidade enorme de novas ferramentas, como o conceito de Big Data, sensores avançados, computação cognitiva, robótica, instrumentação avançada, fabricação 3D, uma explosão nas possibilidades de inovar”, afirma o presidente.

Maurício Lopes acredita que as instituições tradicionais estão se dando conta que, nesse mundo de mudanças velozes e profundas, é impossível atuar de forma isolada e autossuficiente. “É preciso buscar novas competências, novas visões. Está sendo uma experiência muito rica para a Embrapa a possibilidade de criar um ambiente de interação e de grande sinergia do mundo da pesquisa agropecuária com a academia, com as empresas, com os jovens que vêm trazendo ideias inusitadas”, afirma.

Para ele, a perspectiva “de fertilização cruzada” entre as disciplinas tradicionais e convencionais com o novo, estimulado pela tecnologia, gera um produto inédito que pode subsidiar iniciativas similares. “O trabalho liderado pela Embrapa Gado de Leite nos dá uma experiência que podemos aplicar em várias outras frentes. O Brasil tem uma agricultura e uma pecuária riquíssimas, muito diversificadas, um potencial gigantesco ainda a ser explorado para ganho de eficiência, de sustentabilidade, de adaptação do universo agro às necessidades de uma sociedade cada vez mais exigente. A partir do Ideas for Milk, vejo a gente pensando no Ideas for Coffee, Ideas for Meet, Ideas for Fish”, acrescenta Lopes.

Mauro Carrusca, da Carrusca Innovation, coorrealizador do evento, acredita que o ponto forte do Ideas for Milk é fazer a ponte entre a academia e o mercado, tendo como âncora uma empresa pública. “Aí está a inovação. Poderíamos tentar resolver o problema em casa, contratando uma consultoria, mas fomos buscar ajuda nas universidades e a resposta foi dada de uma forma ampla, dinâmica e inclusiva”, analisa. Outra contribuição relevante, segundo ele, é fazer com que o emprego da tecnologia aumente a eficiência da cadeia do leite, reduzindo os custos de seus derivados para o consumidor final. “O Ideas tem um forte cunho social. Com preços mais baixos, mais pessoas terão alimentos como queijos e iogurtes na mesa”, conclui.

 

Ideas for Milk conquistou grandes corporações

A edição deste ano do Ideas for Milk marcou a entrada de grandes corporações dos setores alimentício, de telecomunicação e de tecnologia da informação como apoiadores do programa. Veja o que eles disseram sobre a participação no Ideas for Milk.

Fabiano José Rodrigues de Souza, especialista de inovação da Diretoria de Estratégia e Inovação da TIM.

“A TIM criou, há um ano, uma área de inovação e hoje somos parceiros de alguns hubs de tecnologia. Conhecemos as soluções das startups e a ideia é que a gente consiga aprender o que tem sido feito de novo para descobrir como contribuir com conectividade, inteligência e prestação de serviços, dentro deste cenário de Internet das Coisas (IoT) e Big Data. Vejo grande potencial e demanda fortíssima no agronegócio. Tivemos a oportunidade de conhecer uma fazenda experimental da Embrapa, em Coronel Pacheco, de entender os desafios que existem. Sabemos o quanto a evolução do setor poderia ser agilizada com a conectividade, a informação transmitida em tempo real, gerando uma atuação mais imediata sobre a necessidade da produção do leite. É tudo muito novo para nós. Por isso, é fundamental essa aproximação com o Ideas for Milk. Estamos aqui aprendendo e extremamente surpresos com as soluções apresentadas pelas startups. Muitas delas são complementares. É interessante observar como a tecnologia permeia toda a cadeia produtiva e pode contribuir para melhorar os resultados, colocando o Brasil em patamares de competitividade superiores ao resto do mundo”.

Renê Machado – gerente executivo Milk & Whey Sourcing, da Nestlé.

“A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, tem todo interesse em inovação tecnológica e criatividade porque ela nasceu assim. Achamos fundamental estarmos aqui, pois é importante que nossos produtores façam uso da tecnologia. Queremos fazer parte disso e, sem dúvida nenhuma, o Ideas for Milk é um marco. Viemos participar, aprender, levar o conhecimento e o aprendizado do Ideas for Milk e da Embrapa para nossos fornecedores, consumidores e colaboradores. Vimos aqui boas ideias sendo apresentadas por um pessoal jovem. O mundo não tem mais fronteiras, a inovação acontece onde precisa acontecer. As empresas e as pessoas precisam estar atentas a este movimento. Quando procuro informação, consulto jornais e revistas, mas se busco conhecimento, a marca para mim, no Brasil, é Embrapa”.

Fábio Scarcelli – presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Queijo (ABIQ)

“A ABIQ tem que estar em todo evento que busque inovação envolvendo startups do segmento do leite e de produtores. Tudo o que possa melhorar o approach entre a indústria e o produtor é importante para nós. O Ideas for Milk é o fórum ideal para isso. Estou bastante surpreso com o que as startups apresentaram, com sugestões totalmente diferentes, focando áreas diversificadas, desde a produção primátia até a indústria, melhorando, inclusive, sólidos no leite. É um programa extremamente útil. O futuro começou e agora temos que fazer o Ideas for Milk 2018, 2019, 2020. Isso é um embrião de um projeto gigante que, nos próximos anos, só tende a crescer e trazer mais inovação. A ABIQ quer estar junto”.

Virgínia Delfino – gerente de Marketing da Inove

“A gente entende de TI. Viemos ver quais são as novidades do mercado, o que os estudantes e as startups estão sugerindo, estabelecer parcerias para levar todas essas soluções até os nossos clientes. A Inove tem interesse de orientar e aperfeiçoar essas soluções que precisam ser refinadas e agregar o conhecimento técnico e específico que esses empreendedores têm ao nosso negócio.

O Vacathon também nos surpreendeu bastante. Vimos como a “molecada” está interessada e como os estudantes produziram soluções completas em um curto espaço de tempo. O nível do evento foi muito alto, com presenças-chave em cada segmento”.

Flávia Roberta Silva – gerente de projetos Thinklab da IBM

“Cada vez mais acredito na associação das grandes empresas com a academia e com as startups.”

Ao ser perguntada se a IBM encontrou o que esperava no Ideas for Milk, foi enfática: “Sim, com certeza.”